quarta-feira, 18 de setembro de 2013

 

Bel Kutner: "Quem tem uma pessoa autista na família, tem que pedir ajuda"

Intérprete da enfermeira Joana, de "Amor à Vida", atriz conta como lida com o distúrbio do filho Davi e diz que ter cuidado de sua mãe, Dina Sfat, morta em 1989, ajudou na construção de sua personagem

 

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iG: Você também tem que dar uma atenção a seu filho Davi (diagnosticado com síndrome de esclerose tuberosa e autismo). Como ele está?
Bel Kutner:  Pois é, ninguém aqui tem uma vida regradinha. Minha vida é muito organizada em função do trabalho e do meu filho. E eu ainda tenho um namorado maravilhoso, mas que é super atarefado e dedicado à vida profissional dele, então a gente vai dando o nosso jeito sempre. O Davi está ótimo, fofo, enorme e cheio de atividades. Já está com sete anos, falando pelos cotovelos, vivendo no tempo dele.

iG: Quais são as dificuldades de criar um filho autista?
Bel Kutner: Acho que quem tem uma pessoa autista na família tem que pedir ajuda, tem que estar com outras pessoas, porque não têm dois autistas iguais, mas têm vários pontos em comum entre eles. A família precisa muito de tratamento. As pessoas que convivem com essa doença precisam de apoio, orientação, um direcionamento e tratamento, porque têm coisas especificas que você passa. Com uma criança autista, você pode criar um mal habito que pode virar um condicionamento errado, e daí para mudar esse padrão é muito pior. O autista precisa de uma atenção dez vezes maior. É muito delicado, porque na melhor das intenções, você pode estar diminuindo a autonomia daquele indivíduo.
iG: E como é o dia-a-dia do Davi?
Bel Kutner: Estou com ele todos os dias, todas as horas e momentos que não estou trabalhando. Ele frequenta um curso que tem várias atividades especificas com crianças portadoras de autismo, além de ter contato com psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogo. Neste centro que eu vou, também tem a terapia para os pais. É um acompanhamento bom que eu faço.

AgNews
Bel Kutner e Davi passeando pelo Rio de Janeiro

iG: O autismo é abordado na novela através da persoanem da Bruna Linzmeymer. Acha que ela e o núcleo estão conseguindo passar o que acontece com as famílias que convivem com a doença?
Bel Kutner:  A Bruna está perfeita e a família também. É daquele jeito mesmo: muitas crianças ficam isoladas, o que não pode. A novela vai mostrar uma coisa muito bacana, que o autista na verdade está atento a tudo, percebendo muito mais do que as pessoas imaginam, ouvindo tudo, mas não consegue muitas vezes se expressar. O que é comum são as pessoas falarem coisas na frente de crianças e até de adultos autistas, que não poderiam, alegando que eles não entendem, que não escutam, que só vão ficar prestando atenção na mão delas, nos desenhos. Isso não é verdade.
iG: Acha que a novela pode ajudar a desmistificar um pouco o assunto?
Bel Kutner:  Sim, é maravilhoso e emocionante ver o assunto sendo explicado em uma novela. Acho que vai ajudar a criar uma consciência nas pessoas, mesmo quem não tem nada a ver com o assunto, de que isso existe e precisa, no mínimo, ser respeitado. Algumas situações ficam muito desagradáveis por pura ignorância das pessoas. Muitas vêm abordar de uma maneira errada, com preconceito. 


iG: Pode dar um exemplo?
Bel Kutner: Ah, às vezes você está em um lugar e a criança começa a ter um ataque e você não tem o que fazer, você não deve privar, mas aí tem que escutar: ‘Essa mãe aí, toda nervosa, toda estúpida, estressada...’, ou ainda, ‘Nossa, olha essa mãe passiva, que está deixando o filho se jogar no chão’. Dependendo do que a criança tem, se os pais tentarem segurar, é pior, se tentar gritar, é pior. E o que você aconselha a uma pessoa dessa? Deixar o filho trancado em casa? É muito pior. É importante para eles terem contato com o mundo.



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